* Raízes Culturais da Península Ibérica 3, na CML
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No dia 18 de Maio de 2013, realizou-se na Sala Ogival do castelo de São Jorge, o lançamento do livrinho AlAndalus – 33 Moaxahas a Lisboa, edição dos Serviços Culturais da Câmara Municipal de Lisboa.
A sessão foi organizada pela Câmara.
Quanto ao livro em si, foi organizado e maquetado pelo designer Ernesto Matos, e vem enriquecido pelas suas fotografias.
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Esta iniciativa inseriu-se num projecto da Câmara de Lisboa, e surgiu a propósito do convite que me passaram, de enviar um Haikai para uma publicação de Haikais a Lisboa.
Simultaneamente com o meu Haikai, enviei a sugestão de se fazer uma colectânea de Moaxa’has, igualmente dedicadas à cidade. A sugestão foi muito bem aceite, e depois de algumas sessões de divulgação sobre o tema, surgiu o livrinho.
No lançamento, esteve presente a Srª Embaixadora de Marrocos, que também assina o texto de abertura:
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“A poesia ocupa um lugar particular no legado cultural e civilizacional luso-árabe.
Em Marrocos como em Portugal, a poesia foi sinónimo de refinamento e de erudição. o rei poeta, Al-Mutamid Ibn Abad favoreceu a poesia e as boas artes na sua corte e nomeou como vizir aquele que foi o seu professor: Ibn Ammar de Silves (conhecido sob o nome de Abénamar). Este Rei, sepultado em Aghmat (região de Marrakexe), é o símbolo deste laço tão particular entre Marrocos e Portugal.
A presente compilação de poemas inscreve-se, por sorte, nesta longa tradição mantida e enriquecida ao longo dos séculos. Lisboa, cidade de sete colinas, cheia de monumentos e sítios que lembram com evidência quanto o nosso legado histórico comum está vivaz e de actualidade.
Baseados na estrutura poética do mwashshah d’Al Andalus, os poemas que temos entre as mãos são um justo regresso das coisas, um marco suplementar no diálogo poético entre as nossas duas margens.
Uma boa leitura.
Karima BENYAICH
Embaixadora do Reino de Marrocos em Lisboa”.
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A fechar a colectânea, vem um texto meu, a que o paginador deu o título de Alandalus:
“Alandalus
O Alandalus deixou-nos como legado uma extensa produção poética da qual, de algum modo, ainda podemos usufruir. Na Península arabizada surgiu, a partir do séc IX, um tipo de poema que constituiu uma inovação em relação à Poesia Árabe que até então se praticava. Trata-se das MOAXAHAS, escritas tanto em Árabe, como em Hebraico.
A inovação revestia-se de vários aspectos:
– construção estrófica (5 a 7 quintilhas, precedidas por uma “entrada”, e terminando cada uma delas por um refrão);
– variação da rima de estrofe para estrofe;
– o poema devia terminar por uma “finda” – em árabe, JARCHA -, uma estrofe final desgarrada do corpo do poema – e que era uma estrofe colhida da poesia tradicional da população ibero-romana!
As MOAXAHAS revestem-se, assim, de dois aspectos igualmente marcantes: por um lado, a JARCHA é um testemunho da persistência da velha cultura ibérica que irá mais tarde revelar-se nas Cantigas de Amigo. Por outro lado, esta composição poética testemunha da coexistência das diferentes culturas que na Idade Média coabitavam na Península.
É este tipo de poema que hoje tentamos reconstituir, em moldes aceitáveis:
Solicitámos pequenos poemas formados por uma “entrada”, por duas quintilhas com o seu refrão, e sugerimos que a Jarcha fosse constituída por uma citação de um Poeta Português conforme o gosto e a escolha de cada participante.
Sob o pretexto de celebrarmos a nossa Cidade, recordamos a nossa origem de povo compósito, multi-racial, que actualmente continua aberto ao contributo de outras culturas – alimentando a esperança de com esta iniciativa estarmos a contribuir para o alargamento do interesse pelo estudo dos diferentes contributos culturais que ao longo dos séculos foram forjando o povo que somos.
Myriam Jubilot de Carvalho”.
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Publicado por
© Myriam Jubilot de Carvalho
Dia 27 de setembro de 2014, pelas 20h 30m
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