
DIA 10 de NOVEMBRO de 2015
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DOUTORAMENTO DE JOÃO CRAVEIRINHA, na Faculdade de Letras de Lisboa.
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A Sala de Actos está cheia de pessoas amigas, tanto portugueses e moçambicanos, como angolanos, sãotomenses, guineenses, goeses, caboverdianos, brasileiros, e em peso, funcionários seniores da Embaixada de Moçambique em Lisboa.
Mas demoro a trazer aqui o meu testemunho de apreço pelo candidato, pois seria injusto calar a denúncia de como decorreram alguns aspectos da sessão.
Lamento que dois dos membros do júri não tenham reconhecido o valor do trabalho de investigação revelado pelo candidato. Aliás, é costume o primeiro arguente começar a sua intervenção por um louvor à tese analisada – o que não aconteceu. O primeiro arguente entrou a matar, e em nome de algo como “o espírito académico”, excedeu o seu tempo com críticas despropositadas, chegando ao exagero de afirmar que o candidato não fazia “as pontuações” correctas.
Referiu o poeta José Craveirinha, que não vinha ali a propósito nem era a sua obra que estava naquele momento a ser avaliada.
Os conceitos novos apresentados na tese foram referidos como inúteis, as ilustrações foram consideradas demasiadas, a homenagem aos Pais como inapropriada, os esquemas (da autoria do candidato) como desnecessários. Como nota em aparte, refiro que a família do candidato não era uma família qualquer, pois pelo lado materno, o candidato é descendente da realeza Ronga, e em última análise, no seu conjunto, foi uma famíiia que se encontrava no cerne dos ventos de mudança que se viviam nas últimas décadas de Moçambique colonial.
O próprio estilo, que demonstra aquela abertura de espírito que caracteriza o seu autor, pois a tese está escrita num estilo de largo fôlego, e é indício da sua excelente capacidade de comunicação, foi confundido com “falta de espírito académico”, e subestimado como sendo um “estilo jornalístico e de crónica”, e o auto-conhecimento do carácter inovador da investigação desenvolvida foi confundido com “imodéstia”.
O primeiro arguente chegou a levantar a voz, para, segundo me pareceu, pois o meu espanto petrificou-me, para dizer que o candidato advogava o uso de termos e conceitos como “raça”, e invocou que este confundia pós-colonialismo e independência – argumentos inesperados se pensarmos que o autor da tese foi lutador pela independência do seu amado país natal.
Limitei-me aos pontos mais relevantes desta argumentação no mínimo
infeliz.
No final, a presidente do júri insurgiu-se contra a ilustração ao vivo de matéria constante da tese, considerando agastada que se tratava de “jornalismo”, que não tinha sentido académico!
À saída, enquanto angustiados esperávamos pela avaliação do júri, muitas pessoas estavam indignadas e falou-se de “racismo” e do espanto que é, “ainda nos dias de hoje, esta permanência do espírito inquisitorial na mentalidade portuguesa”. Um Amigo comum afirmava “Isto é mais que racismo; isto é a raiva ao nome da (esta) Família”.
Quanto a mim, além disso, o que esteve em causa, foi o desajuste que se verifica tantas vezes, entre a “inteligência racional”, fria e sem alma, e os tipos de “inteligência artística” e “inteligência emocional”. O que ontem esteve em evidência, foram o choque e o desajuste entre estes pólos, que na vida prática tantas vezes se revelam antagónicos. Segundo estes dois professores, o “espírito académico” deverá ficar eternamente espartilhado no estilo seco – mortiço, enfadonho e desinteressante – dos calhamaços de antanho.
No final, tudo se saldou por uma “aprovação com distinção, por unanimidade” – uma unanimidade que levou cerca de uma hora a conseguir…
Deixo aqui a minha homenagem aos outros membros do júri, e à excelentíssima Professora Orientadora, que reconheceram o valor do candidato!
Enfim, não poderei deixar de acrescentar mais este detalhe:
Professores mais familiarizados com a matéria da tese, vindos do estrangeiro (Suíça, Moçambique ou Brasil) não puderam ser convidados como arguentes, porque a miséria dos orçamentos oficiais não permite tais intercâmbios… Como nota adicional, refiro ainda que estes Actos requerem uma sala condigna, não um vão-de-escada que só recebe luz por uma clara-boia, e com as condições exigíveis à correcta projecção dos “power point”; e que a falta de uma sala de espera onde os convidados dos doutorandos possam aguardar condignamente os resultados das avaliações obriga estes a encostarem-se às paredes ou a sentarem-se nas escadas…
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Finalmente, ao doutorando, pela sua excelente tese, os meus parabéns, com os mais vivos votos de que com ela se encete uma nova etapa na vida do seu autor! João Craveirinha, o meu apreço, e o meu abraço!
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© Myriam Jubilot de Carvalho
11 de Novembro de 2015
Post também publicado na minha página do FB
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Publicado por
© Myriam Jubilot de Carvalho
Noite de 11 para 12 de Novembro de 2015, pelas 3h 45m
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