Um poema de Emily Dickinson (poema 1510) . How happy is the little Stone That rambles in the Road alone And doesn’t care about Careers and Exigencies never fears – Whose Coat of elementar Brown A passing Universe put on, And independent as the Sun, Associates or glows alone, Fulfilling absolute Decree In casual simplicity – . . Tradução de António Simões, na sua Antologia de Poesia Anglo-Americana Edição Campo das Letras, 2002 pág 338: . . Como é feliz a Pedrinha Rola pla Estrada sozinha, Sem ter cuidados de Emprego, Dos Desafios não tem medo – Sua Castanha Roupagem Veste Universo de passagem; Como o Sol, independente, Brilha só ou conjuntamente, Cumpre a divina Vontade Com toda a simplicidade – . . Emily Dickinson (1830-1886)
ESTA onda de xenofobia desorienta. Sei que o País dos Brandos Costumes, de “brando”, não tem nada. …Mas tanto?! . Até me sinto ridícula em afirmar que estou do lado de Todo-o-Mundo! E mais, sendo Mulheres, estamos todas ao mesmo nível – Somos todas alvo dos mesmos movimentos machistas, exclusivistas, e ainda por cima, um sector do Todo Feminino que formamos, é vítima desta desenfreada xenofobia. . Mas estamos unidas, e a Razão, a pura Razão, há-de estar do nosso lado. Não as desconfianças. . Como pode um sector dos Portugueses/Portuguesas, sentir ressentimento para com os Afro-Europeus? Quem foi que tingiu de sangue e sofrimento os litorais africanos? …E não me venham com o argumento estafado de que os “africanos vendiam o seu povo”. A ganância e a crueldade são de todas as latitudes e de todos os tempos. O que é de “lamentar” – oh, como as palavras são insuficientes – o que é de repudiar, é que no século XXI ainda haja uma camada da nossa população que se mostra desorientada ao ver que todos temos o direito de nos cruzarmos na rua, na praça, nas lojas, nas universidades ou na vida política, todos e todas à mesma altura, e todos e todas com os mesmos direitos. Só existe uma realidade na vida – o Ser Humano. Sejamos todos Humanos! No sentido mais elevado e mais nobre do termo. Não me entendam mal: não é por caridade. É porque é de Direito.
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Publicado por Myriam Jubilot de Carvalho, aqui e no FB. Em 14 de Outubro, pelas 3h 12m
O resultado das eleições do passado dia 6 deste mês vem imprimir uma grande renovação à nossa sociedade. Estas três deputadas, recém-eleitas, são Afro-Europeias. Africanas pela ascendência e cultura materna, mas também Europeias pela Cultura adquirida no país onde vivem, quer pelas suas vivências pessoais, quer pelos seus estudos universitários.
Estamos todos de parabéns, porque a sua eleição representa um avanço na actualização e modernização do nosso viver colectivo. Isto é, no século da Globalização, ficam para trás, felizmente, as considerações de origem geográfica que nos inferiorizavam a todos. Esperamos que a sua presença no Parlamento traga o contributo que nos faltava para a total abertura da mentalidade colectiva à presença dos Afro-Europeus no país colonizante que fomos, e que ainda não deixámos completamente de ser. Senão, como se compreenderá que uma das praças públicas mais belas da nossa capital ainda continue a ser designada como “Praça do Império”?
Só esta noite vi o último Eixo do Mal (programa da SIC Notícias, quintas-feiras à noite) – um programa que muito aprecio e que em geral não perco. Na última parte do programa, os convidados referiram-se, com indignação e muito bem, ao modo insultuoso com que um certo segmento da opinião pública tem acolhido a activista Greta Thunberg. . Isto eles não disseram, mas eu digo: Esse falejar indignado deve-se a dois aspectos: 1- As actividades de defesa da Natureza e do Planeta incomodam as grandes indústrias. Toda a gente percebe isso. 2- As pessoas comuns incomodam-se só de pensarem que têm de mudar os seus hábitos. E é isto que as pessoas não querem perceber. . Bruce Chatwin cita o provérbio indiano: Life is a bridge. Cross over it, but build no house on it. Na tradução portuguesa – “Canto Nómada” – vem na pág 219 – “A vida é uma ponte. Atravessa-a, mas não construas nela nenhuma casa.” Jesus Cristo, segundo rezam as crónicas, também disse, no famoso e magistral Sermão da Montanha: “Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam, contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles.” Mas a nossa “civilização” ultrapassou em muito esta sabedoria, e o resultado está à vista. Ainda Bruce Chatwin (na pág 164): “O mundo, se algum futuro tem, há-de ser um futuro ascético.”