A árvore, segundo Susanna Tamaro
A árvore
… “Desde que desponta até que morre, está sempre parada no mesmo sítio. As raízes fazem-na estar mais perto do coração da terra do que qualquer outra coisa, a copa fá-la estar mais perto do céu. A linfa corre no seu interior de cima para baixo, de baixo para cima. Expande-se e retrai-se em função da luz do dia. Espera pela chuva, espera pelo sol, espera por uma estação e depois por outra, espera pela morte. Nenhuma das coisas que lhe permitem viver depende da sua vontade. Existe e mais nada. Compreendes agora porque é belo acariciá-las? Pela sua solidez, pela sua respiração tão longa, tão tranquila, tão profunda. Algures na Bíblia está escrito que Deus tem as narinas largas. Embora seja um tanto irreverente, sempre que tentei imaginar uma parecença para o Ser Divino veio-me à ideia a forma de um carvalho.
Na casa da minha infância havia um, tão grande que eram precisas duas pessoas para lhe abraçar o tronco. Aos quatro ou cinco anos, já gostava muito de ir ter com ele. E lá ficava, sentia a humidade da erva debaixo do traseiro, o vento fresco nos cabelos e na cara. Respirava e sabia que havia uma ordem superior das coisas e que eu estava incluída nessa ordem juntamente com tudo aquilo que via. Embora não soubesse música, algo cantava dentro de mim.”
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in Vai até onde te leva o coração
de Susanna Tamaro
Editorial Presença
11ª edição, Lisboa, Novembro 1998;
pág 41
Publicado por Myriam Jubilot de Carvalho
Dia 25 de Junho, pelas 00h 18m
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