.

Federico García Lorca
5 Junho 1898 – 19 Agosto 1936
.
Como celebração da efeméride do nascimento de Federico García Lorca, num dia 5 de Junho, escolho estes dois poemas, retirados da sua obra “Divã do Tamarit”, colectânea de poemas escritos entre 1931 e 34, mas só publicados em 1940.
Esta é uma obra inspirada no seu apreço pelo legado da cultura arábico-moura da Península, nomeadamente na sua terra, a Andalusia, onde a presença muçulmana foi mais prolongada que nas outras regiões peninsulares.
Gazal refere uma composição poética, erótica, em tom elegíaco.Teve a sua origem no deserto (Arábia), e passou depois à Pérsia e à Turquia. Era de transmissão oral, pelo que nos restam poucos testemunhos de épocas mais remotas. Aqui na Península, foi cultivada por Ibn Zaydun, de quem restam alguns versos dos seus gazal.
Casida, em geral traduzida como ode, era um género poético cultivado por árabes e persas., onde se fazia o elogio de uma tribo ou de uma pessoa. Em geral, era uma composição longa, constava de rimas monórrimas, e obedecia a um esquema fixo.
“Diwan” designa uma antologia poética de um autor.
Nesta obra, “Divã do Tamarit”, Lorca cultiva estes dois tipos de poemas, usando tópicos da poesia arábico-persa, como a identificação da pessoa amada com elementos do mundo vegetal, ou a insistência na dor física…
.
GACELA DEL AMOR MARAVILLOSO – páginas 48 e 49
.
Con todo el yeso
de los malos campos,
eras junco de amor, jazmín mojado.
.
Con sur y llama
De los malos cielos,
Eras rumos de nieve por mi pecho.
.
Cielos y campos
Anudaban cadenas en mis manos.
Campos y cielos
Azotaban las llagas de mi cuerpo.
.
GAZAL DO AMOR MARAVILHOSO
.
Com todo o gesso
Dos campos maus,
Eras junco de amor, jasmim molhado.
.
Com sul e chama
Dos céus maus,
Eras rumor de neve no meu peito.
.
Céus e campos
Prendiam correntes nas minhas mãos.
.
Campos e céus
açoitavam as chagas do meu corpo.
.
=========
.
CASIDA DEL SUEÑO AL AIRE LIBRE – páginas 64 e 65
.
Flor de jazmín y toro degolado.
Pavimento infinito.mapa. sala. Arpa. Alba.
La niña sueña un toro de jazmines
Y el toro es un sangrento crepúsculo que brama.
.
Si el cielo fuera un niño pequeñito,
Los jazmines tendrían mitad de noche escura,
Y el toro circo azul sin lidiadores,
Y un corazón al pie de una columna.
.
Pero el cielo es un elefante,
Y el jazmín es una água sin sangre
Y la niña es un ramo nocturno
Por el inmenso pavimento oscuro.
.
Entre el jazmin y el toro
O garfios de marfil o gente dormida.
En el jazmin un elefante y nubes
Y en el toro el esqueleto de la niña.
.
CACIDA DO SONHO AO AR LIVRE
.
Flor de jasmim e touro degolado.
Pavimento infinito. Mapa. Sala. Harpa. Alva.
A menina sonha um touro de jasmins
e o touro é um sangrento crepúsculo que brama.
.
Se o céu fosse um menino pequenino,
os jasmins teriam metade de noite escura,
e o touro circo azul sem lidadores,
e um coração ao pé de uma coluna.
.
Mas o céu é um elefante,
e o jasmim é uma água sem sangue
e a menina é um ramo nocturno
no imenso pavimento escuro.
Entre o jasmim e o touro
ou ganchos de marfim ou gente adormecida.
No jasmim um elefante e nuvens
e no touro o esqueleto da menina.
.
Poemas retirados da edição bilingue portuguesa – “Divã do Tamarit”
Tradução e estudo de José Manuel de Vasconcelos; Desenhos de Ruth Rosengarten
Vega, 1985
.
Fontes:
Entre várias outras, cito:
“La influencia oriental en ‘El Diván del Tamarit’ de Lorca”, de M. Ángeles Pérez Álvarez, existente na Net.
Link da imagem:
http://www.theprisma.co.uk/wp-content/uploads/2012/09/Justicia-social-y-arte-latino3-lorca.jpg
.
Publicado por – © Myriam Jubilot de Carvalho
Dia 6 de Junho de 2014, pelas 8h 18m
.
.
.