MADIBA, I Love you
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No nosso hemisfério Norte, é Verão, e temos hoje esta bela manhã de domingo em que apetece ir para a praia.
Mas na África do Sul é Inverno, e o Inverno em Joanesburgo é frio, muito frio mesmo, embora esplendorosamente cheio de Sol.
Em Pretória, continua a vigília de acompanhamento a Nelson Mandela. Esta vigília comove-me profundamente, pois na minha óptica, comparo-a às vigílias trágicas que as famílias dos presos políticos negros condenados à morte faziam do lado de fora da prisão de Pretória, cantando sem cansaço, para que os ecos dos seus cantos acompanhassem os seus entes queridos até à hora final… O meu companheiro, Jack Judaken, falava-me disto.
Nelson Mandela, o último pacifista do séc XX. Jack falava sobre ele com total veneração. “Como é que é possível ter estado cerca de 30 anos preso, e sair de uma prisão daquelas, sem mostrar rancores, sem procurar vingança? ”
Há muita gente que desconhece que ele era um príncipe, ele era um príncipe Xhosa.
Hoje transcrevo esta passagem da sua auto-biografia:
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( A troca – Do sal para a salmoura )
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“A prisão não nos tira só a liberdade, procura também roubar-nos a noção de quem somos. Todos envergam o mesmo uniforme, comem a mesma comida, cumprem os mesmos horários. Por definição, é um Estado puramente autoritário, que não tolera a independência e a individualidade. Enquanto homem e combatente da liberdade, é preciso lutar contra as tentativas de nos sonegarem esses direitos.
Levaram-me directamente do tribunal para a prisão de Pretória, a sinistra monstruosidade de tijolo vermelho que eu tão bem conhecia. Só que agora era um preso condenado, não um detido a aguardar julgamento, e fui tratado sem a pouca deferência a que estes últimos tinham direito. Tiraram-me as roupas e o coronel Jacobs teve finalmente o prazer de confiscar o meu traje tribal. Foi-me entregue o uniforme da prisão distribuído aos africanos: um par de calções, uma camisa de caqui grosseiro, um casaco de lona, peúgas, sandálias e um barrete de pano. Os negros são os únicos que recebem calções, pois só os negros são tratados por “rapaz” pelas autoridades.
Declarei que em circunstância alguma envergaria os calções e disse que estava preparado para os processar em tribunal. Mais tarde trouxeram-me o jantar, uma papa de aveia, grossa e fria, com meia colher de açúcar. Recusei-me a comer. O coronel Jacobs ponderou a situação e encontrou uma saída: teria direito a usar calças e a comer a minha própria comida, desde que aceitasse ficar em isolamento.
– Íamos pôr-te com os outros políticos – disse ele –, mas agora vais ficar sozinho, meu. Espero que gostes
Respondi-lhe que o isolamento estaria bem desde que pudesse usar calças e comer o que escolhesse.”
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IN: Um Longo Caminho Para A Liberdade
Autobiografia, de Nelson Mandela
Edit Planeta, 2009 – Pág. 317
Imagem:
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Publicado por Myriam Jubilot de Carvalho
Dia 30 de Junho de 2013, pelas 10h
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