Terríveis, as notícias que chegam até nós…
Como nada posso fazer, deixo o testemunho da minha solidariedade para com quem tanto sofre, através dos meus poemas…
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Aonde levará o Vento os nossos prantos
Quando sob o brumoso céu nos lamentamos?
– Todo o Mal que fazemos, é este Inferno,
E o Céu, todo o Bem que semeamos
Omar Khayyam
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Consoada 2002
I
Requiem pela cultura ocidental
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Sabra, Shatilla, May Lay, Viriamu, Aushwitz, Birkenau, Tarrafal…
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O ódio e a guerra
nos destruíram
Como um maremoto
sobre sonhos de pastores
abutres são
ferrados em nossos olhos de medo e espanto esbugalhados
Somos heróis
pela força do destino
Não
pelos nossos sonhos de meninos
Nem nos podemos calar
como havemos de voltar
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“Caim disse a Abel, seu irmão: ‘Vamos ao campo.’ Porém, logo que chegaram ao campo, Caim lançou-se sobre seu irmão e matou-o.
O Senhor disse: ‘Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim.’
Caim disse: ‘A minha culpa é excessivamente grande para poder ser perdoada.’
O Senhor respondeu: ‘Quem matar Caim, será castigado sete vexes mais.’”
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Bósnia, Afeganistão, Vietnam, Timor Leste…
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Junto aos muros dos templos
e dos poços de ouros negro
lá estão as policabeças
de um mesmo abutre
– o desgraçado coração humano
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A tudo isto
teremos de assistir?
Os paranóicos se geram
e multiplicam
em progressivos círculos concêntricos
e como o lince
se abatem
sobre indefesos enxames
Na era das
trevas
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“Lamec disse às suas mulheres: ‘Mulheres de Lamec, ouvi a minha palavra: Matei um homem porque me feriu, e um rapaz porque me pisou. Se Caim foi vingado sete vexzes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete.’”
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Abortus
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Quem deve perecer?
Quais vãou ser us excluídus
nus cômputus
de Deus Miséria?
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Cordis
ad Deum
spiritus meus
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Mas nãu é tudu
tãu igual?
Caleidoscópius de Pégasus
em dias de crivus:
as leis de Darwin verificar-se-ãu
sempre
e a todus us níveis
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Nu mercadu de escravus
quem vai à frente
senãu as mulheres?
Meu filho, meu tesouro,
Chateias-me os cornos (as contas
as contas! As contas, os cornos)
Não te deixo viver
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E disso morro
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U homem de Cro Magnon nau é
tãu sapiens quantu baste
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“O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem.”
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E disso morro
II
Gandhi, Tagore, Luther King, Madre Teresa, Padre Cruz…
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Sair
Sair, ir por aí, simplesmente
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Se tu estivesses ao fundo da rua, à minha espera,
eu chegava, tu sorrias,
passavas teu braço, levemente, à volta dos meus ombros,
eu passava à tua cintura o peso dos meus passos
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(Fecho os olhos
Deslizam, algures, uns atrás dos outros,
os fantasmas das cartas de uns quantos jogos de computador,
todos os naipes, todas as dores)
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Sair, abrir as janelas
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E onde fica a estância do amor?
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e os comboios que passem
até lá onde fique essa estância do Amor
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In:
Florilégio de Natal
Pelos escritores da tertúlia Rio de Prata e convidados
Coordenação de Julião Bernardes
2011
edium editores
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A tradução bastante livre que aqui apresento, é feita sobre um poema de “Omar Khayyam dans ses Robaiyat”, par le Dr. Otoman Zar-Adusht Ha’nish, Editions Aryana, Paris, s/d; página 62 – Esta tradução francesa é, por sua vez, traduzida do Inglês…
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A imagem, ruínas da Antiguidade, na Síria, é retirada da Net.
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Lançamento do dia 12 de março de 2012, pelas 14h 33m
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